022.01 – O DIREITO DAS CRIANÇAS – A RESPONSABILIDADE DOS PAIS

022.01 – O DIREITO DAS CRIANÇAS – A RESPONSABILIDADE DOS PAIS

O nascimento duma criança, seja ela uma menina ou um rapaz, é sempre motivo de alegria para os pais, avós e restantes familiares. Um ou outro pai, quando recebem a notícia de que nasceu uma menina, como primeiro descendente, ficam tristes, pois preferiam um rapaz. São ainda ideias que persistem em muitos países, mesmo nos considerados mais desenvolvidos. No entanto, com o evoluir do tempo, os pais acabam por se afeiçoar à criança, ao ponto de ser a filha querida.

Todos os recém-nascidos são bem-vindos e gozam dos mesmos direitos, perante os parentes e a sociedade. A religião Islâmica, contém ensinamentos que abrangem todas as etapas da vida, que se iniciam desde o nascimento. Vamos recordar alguns aspectos referidos no Cur’ane e nos ensinamentos do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam – Que Allah derrame as bênçãos sobre ele), relacionados com os direitos das crianças e a responsabilidade dos pais.

O Profeta Zakariya (Aleihi Salam – Que a Paz de Deus esteja com ele), ansiava ter um filho, apesar de ser velho e a mulher ser estéril. Receava  pela degradação da conduta religiosa dos seus parentes que lhe haviam de suceder, levantou as mãos e pediu a Allah um sucessor para continuar com a obra dos Profetas anteriores. Allah ouviu as suas preces conforme refere o Cur’ane: Foi-lhe dito: Ó Zakariya! Nós trazemos-te boas novas de um filho, cujo nome é Yahya (João Baptista); nunca demos este nome a ninguém antes dele”. 19:7. É sempre uma alegria, recebermos a notícia do nascimento de um filho e por isso, os familiares e amigos devem felicitar os pais “babados”, compartilhando a alegria, pela vinda de mais um membro da família.

A criança recém-nascida, após o corte umbilical, deve ser lavada e o cordão umbilical enterrado. É a confirmação da preocupação do Islão, no que se refere à higiene.

O Azan e o Iqámah (chamamento para a oração), em voz baixa, devem ser efectuados nos ouvidos direito e esquerdo, respectivamente. Esta é uma tradição do nosso Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) que assim fez, depois do nascimento do seu neto Hassan Ibn Ali (Que Allah esteja satisfeito com ele) – Tirmizi. Qualquer muçulmano o poderá fazer, mas de preferência, deve ser dada a prioridade a uma pessoa piedosa/religiosa. A criança recebe/ouve as primeiras palavras, que enaltecem a grandeza do seu Criador e que chamam as pessoas para a oração e para a felicidade. Após o azan, deve-se fazer uma prece, para que Deus, nosso Criador, proteja a criança e que a encaminhe sempre para o bom caminho e que seja temente a Deus.

É tradição também fazer o Tahnik – esmagar com os dentes um pedaço de tâmara ou fruta doce e colocar na boca da criança. Os companheiros do Profeta, que tinham uma grande admiração e amor por ele, sempre que nascia uma criança, levavam-na para junto dele. O Profeta fazia o Tahnik e depois fazia uma prece para ela. – Bukhari e Muslim. Nota: Outra alternativa é esmagar o pedaço da tâmara ou da fruta, utilizando, por exemplo duas colheres, ou qualquer outro utensílio.

Cabe aos pais a responsabilidade de dar um bom nome à criança e de lhe ensinar as boas maneiras. Abu Darda (Radiyalahu an-hu – Que Deus fique satisfeito com ele), referiu que Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “No dia do julgamento final, sereis chamados por vossos nomes e dos vossos pais. Por isso escolhei bons nomes para vós.” – Abu Daud. Segundo Abdullah Ibn Umar (Radiyalahu an-hu), o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) referiu: Perante Deus, o melhor nome é Abdullah (Servo de Deus) e Abdul Rahman (Servo do Beneficente).” – Muslim.

Também referiu o Profeta: “Denominem-se com os nomes dos Profetas.” Também disse: “Denominem-se com o meu nome.” O nome pode ser outro qualquer, desde que tenha um bom significado. O Profeta alterava o nome das crianças, sempre que o nome tivesse um mau significado – Tirmizi e Muslim.

O Aquiqah em termos religiosos, refere-se ao animal que é sacrificado no sétimo dia após o nascimento da criança. Existem várias narrativas que se referem ao aquiqah, pelo que deve ser efectuado pelos pais da criança. É um acto de gratidão demonstrado pelos pais, pela bênção concedida por Allah. Disse o Profeta: “A criança fica penhorada em relação ao aquiqah, por isso sacrificai, da parte dela, no sétimo dia (carneiro/s), rapem o cabelo e lhe dê um bom nome.” Relato de Ummi Kurz (Radiyalahu an–há) – Tirmizi e Nassai. As condições dos animais para o aquiqah, são idênticas aos do Curbani (sacrifício do dia de Idul Adha). A carne do Aquiqah pode ser distribuída, preparada ou não, pelos familiares e amigos. Mas o melhor é dividir a carne em três partes – uma para os necessitados, outra para os amigos e vizinhos e outra para consumo próprio. O aquiqah pode ser adiado, se não for possível fazer no sétimo dia, mas não convém atrasar muito. Se os pais não tiverem possibilidades financeiras, não devem recorrer a empréstimos, ficando esta responsabilidade suprida.

Ao sétimo dia, deve-se rapar o cabelo da criança. Para quem tenha possibilidades financeiras, é sunat (tradição) oferecer aos pobres, ouro, prata ou dinheiro, equivalente ao peso do cabelo. Este acto, acima de tudo, permite uma ajuda aos necessitados, pela felicidade da chegada de mais um membro da família. Todas as ocasiões são propícias para a partilha.

Outra obrigação dos pais, é de providenciarem a circuncisão do rapaz (Al-Khitán). Segundo Tirmizi, o Profeta considerou a circuncisão, o sunah (tradição) de todos os Profetas. O primeiro a cumprir com esta tradição foi o Profeta Ibrahim (Aleihi Salam) – Abraão (Que a Paz de Allah esteja com ele). A circuncisão deve ser efectuada o mais cedo possível, pois o Profeta assim fez aos seus netos, no sétimo dia, após os nascimentos. Está provado cientificamente, de que a circuncisão protege os homens contra diversas doenças.

É responsabilidade dos pais dar a educação aos filhos. A educação abrange muitos aspectos, entre eles, o comportamento, as boas maneiras, o respeito, a moral e a aprendizagem religiosa e escolar. A educação não pode cingir-se só a parte religiosa, ou só a parte escolar. Deve abranger as duas componentes, importantes para que eles possam ser piedosos, compreender o mundo,  encarar o futuro com optimismo e evitarem a mendicidade. Cada vez mais, nos tempos em que vivemos, as crianças muçulmanas devem ser preparadas para enfrentarem o futuro com mais entusiasmo. Necessitamos de mais médicos, engenheiros, professores, enfermeiros e de técnicos a todos os níveis, para ajudarem a combater a ignorância e a erradicar a pobreza. No Islão, o conhecimento religioso e científico são inseparáveis. A primeira revelação do Cur’ane, começa por: “Recita em nome do teu Senhor que criou… 96. Noutro versículo: Ó meu Senhor! aumentai-me o ilm (conhecimento). 20:114. E outro: “Podem ser iguais os que sabem e os que não sabem?”. 39:9.

Existem muitas exortações do nosso Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam), para se estudar e obter conhecimentos: “A procura do ilm (conhecimento) é uma obrigação para todos os muçulmanos, seja homem ou mulher.” – Ibn Mája. “A tinta de um teólogo é mais sagrada do que o sangue de um mártir.” – Tirmizi.

Alguns pais acabam por se preocupar só com a educação escolar e as crianças crescem sem obterem qualquer conhecimento religioso. Nas décadas anteriores, nomeadamente  no Brasil e na Europa, isolados das suas comunidades, alguns imigrantes muçulmanos deixaram de praticar a religião. As consequências no lar foram desastrosas. Os filhos, com nomes muçulmanos, não sabem nada da religião dos pais. Actualmente muitos pais estão arrependidos, tentando corrigir a situação.

Refere o Cur’ane: Ó vós que credes! Afastai-vos vós mesmos e as vossas famílias do fogo, cujo combustível são os homens e as pedras.” 66:6. Quando foi revelado este versículo o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), questionado pelos seus companheiros (Radiyalahu an-hum), de como poderão salvar as suas famílias do fogo do inferno, respondeu: “ordenando-lhes a prática daquilo que é do agrado de Deus”.

Os pais devem preocupar-se em transmitir às crianças todos os ensinamentos religiosos, de modo que eles possam distinguir o lícito do ilícito e o bem do mal. Mas para isso, é importante que os pais conheçam ou relembrem, nomeadamente a vida e a obra do Profeta, o exemplo dos seus companheiros e como praticar a religião. Porque não vivemos isolados, neste mundo, é importante dotar a criança de conhecimentos mais amplos, de modo que possa estar apta para dialogar com outras culturas e religiões, como forma de esclarecimento dos fundamentos da religião (dawá).

Abdullah Ibn Umar (Radyialahu an-hu)  disse que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) referiu: “Todos vós são responsáveis e sereis questionados pelas vossas responsabilidades. O líder religioso (pela sua comunidade), o homem pela sua família, a mulher pela casa, o servidor pelos bens do seu dono, todos vós sereis questionados a respeito das vossas responsabilidades.” Bukhari, livro 62, nº. 116.

Os pais são responsáveis pelo sustento dos seus filhos. Todos eles, rapazes e raparigas,  devem ser tratados duma forma justa e igual, sem qualquer preferência de uns em relação a outros. Dar preferência a um filho em detrimento dos outros, é uma injustiça e proibido pelo Islão, de acordo com a seguinte passagem: An-Nu’man Bin Bashir (Radiyalahu an-hu) referiu. “Minha mãe pediu ao meu pai para me dar um presente, da sua propriedade. E ele deu-me, depois de alguma hesitação. A minha mãe disse que não ficaria descansada enquanto o facto não fosse testemunhado pelo Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam). Ainda jovem, meu pai pegou-me pela mão e fomos ter com o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) e o meu pai disse-lhe: “A mãe dele, Bint Rawaha, pediu-me para lhe dar um presente”. O Profeta  disse: “Tens outros filhos, além deste?”. “Sim respondeu o meu pai”. E o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) replicou: “Não me faça testemunha duma injustiça.” Bukari – Livro 48, número 818.

Os órfãos também têm os seus direitos. Os familiares mais chegados devem criar condições para que eles sejam alimentados e educados. O pai do Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam), faleceu antes dele nascer. Ficou órfão da mãe, ainda muito pequeno. O seu avô Abdul Mutalib tomou conta dele. Mas infelizmente, por pouco tempo, pois o avô faleceu. Ficou então sob a responsabilidade do tio Abu Talib.

Referiu o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam: “Eu e o guardião do órfão, estaremos juntos no paraíso.” – Ahmad e Tirmizi. Também disse: “A melhor casa é aquela em que o órfão é tratado com bondade.” – Ibn Mája.

“Rabaná ghfirli waliwa lidaiá wa lilmu-minina yau ma yakumul hisab”. “Ó Senhor nosso, no Dia da Prestação de Contas, perdoa-me a mim, aos meus pais e aos crentes”. Cur’ane 14:41. “Wa ma alaina il lal balá gul mubin”  “E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem”. Surat Yácin 3:17. “Wa Áhiro da wuahum anil hamdulillahi Rabil ãlamine”. E a conclusão das suas preces será: Louvado seja Allah, Senhor do Universo!”. 10.10.

Abdul Rehman Mangá

 

 

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