010-05 – RECONCILIAÇÂO E O PERDÃO
“Bem- aventurado aquele que perdoa, procurando a reconciliação”.
“Implora o perdão a Allah, porque Ele é Indulgente, Misericordiosíssimo”. Cur’ane 4.106.
O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: 1)- “Se não tivésseis cometido faltas, Allah, o Altíssimo haveria criado outro povo que as teria cometido e acto contínuo, teria pedido perdão e Allah o teria perdoado”. Relato de Khaled Ibn Zaid (Radiyalahu an-hu) em Muslim. 2)- “Todos os filhos de Adam (Aleihi Salam), são pecadores, mas o melhor dos pecadores é aquele que se arrepende”. Tirmidhi.
Muitas pessoas são orgulhosas e por isso, sentem dificuldades em pedir desculpas, mesmo reconhecendo que cometeram erros ou magoaram o seu semelhante. Parece que sentem um nó na garganta quando têm de dizer a palavra mágica da reconciliação: “desculpa-me”. Para alguns, é mais fácil pedir perdão a Deus do que ao seu semelhante. E porquê? Porque pensam que não estão na presença de Deus e por isso não se sentem constrangidos. Ao pensarem assim, não estão a ser sinceros e dificilmente Allah aceitará os seus pedidos. E Allah sabe melhor! O melhor crente, é aquele que pede desculpas antes do seu semelhante o pedir.
Estamos sempre a tempo de pedir perdão aos nossos irmãos, procurando a reconciliação, em especial a familiar, antes que a morte nos apanhe. Abu huraira (Radiyalahu an-hu) referiu que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Não é permitido a um crente deixar de falar com outro crente, por um período acima de três dias. Se passarem 3 dias, ele deve procurar com quem se zangou e saúda-lo. Se o outro responder a saudação, ambos partilharão a recompensa. Mas se não retribuir a saudação, então este carregará o fardo do seu pecado e quem tiver cumprimentado, estará livre do pecado”. Relato de Abu Daud.
Bem-aventurado aquele que é ofendido, mas que toma a iniciativa de se dirigir ao seu irmão de fé, para “quebrar o gelo” da discórdia. As simples palavras “Assalamo Aleikum” provocam um efeito mágico de reconciliação, fazendo com que os dois recomecem a falar, obtendo assim a Misericórdia de Deus. Al Bara Ibn Azib (Radiyalahu an-hu) referiu: “O Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Se dois muçulmanos se encontrarem e se cumprimentarem, apertando mãos, louvando e pedindo a Allah para lhes perdoar, eles serão perdoados”. Suna Abudawd 41/5192.
Ainda acerca da reconciliação entre dois irmãos de fé, recordemos o seguinte hadice narrado por Huraim (Radiyalahu an-hu): o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse que as acções das pessoas são apresentadas todas as semanas nas segundas e quintas–feiras. Todo o serve crente ser-lhe-á garantido o perdão, excepto aquele que conservar o rancor perante o seu irmão, até se voltarem para a reconciliação”. Muslim 32/6224. Também referido no Maliks Muwatta 47.4.17. Sobre este hadice, recordo que o Profeta tinha por hábito jejuar às segundas e quintas-feiras e por isso, alguns crentes também efectuam jejuns facultativos nos referidos dias.
A mentira é um acto reprovável por Allah. No entanto quem mentir com a finalidade de reconciliar pessoas que andam de costas voltadas, não será considerado um mentiroso. Chamemos de “mentira doce”, que também é utilizado entre casais, com a única finalidade de se reconciliarem. Humaid B. Abd al Rahman b. Auf reportou que a sua mãe Umm Kulthum ouviu o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) dizer: “Não é mentiroso, aquele que tenta a reconciliação entre as pessoas e fala bem, a fim de evitar controvérsias. Ibn Shihab referiu que esta isenção (de falar mentira doce) não foi concedida em qualquer circunstância, mas somente em três situações: a) Na batalha; b) procurando a reconciliação entre pessoas; c) e as palavras do marido, para com a mulher e as palavras da mulher, para com o marido (de forma distorcida, mas com a finalidade de reconciliação entre eles). Muslim 32:6303.
“Bem- aventurado aquele que perdoa, procurando a reconciliação”.
Allah, nosso Criador, Protector e Sustentador, exorta o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) a perdoar as pessoas e convida-las para a verdade e para a reconciliação, conforme o versículo do Cur’ane 7:199: “Conserva-te indulgente, ordena o bem e afasta-te dos ignorantes”. Assim, ele mantinha a calma, mesmo quando era alvo de maiores provocações e calúnias. Era tolerante e sabia perdoar. As palavras amargas de retaliação, em forma de vingança, são prejudiciais para transmitir a profecia e poderia fazer com que as pessoas se afastassem. O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) aconselhou aos que enviou para as diversas missões, de que deviam ser o prenúncio da felicidade e não do ódio e de serem fontes de conforto e não do aumento de dificuldades.
E Allah elogiou esta postura do Profeta: “Pela Misericórdia de Deus, foste gentil para com eles; porém, tivesses tu sido insociável ou de coração insensível, eles se teriam afastado de ti. Portanto, indulta-os, implora perdão para eles e consulta-os nos assuntos (do momento) …” Cur’ane 3:159. Com esta postura sábia de reconciliação, o Profeta conquistou muitos corações, sendo esta uma das causas da aceitação do Isslam, por parte dos que há bem pouco tempo, eram idólatras. Também os seus companheiros e sucessores adoptaram a mesma via, fazendo com que o Isslam se espalhasse rapidamente não só na Arábia, mas também nos países vizinhos.
Abdullah Bin Amr referiu que Abu Bakr As-Siddiq pediu ao Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam): Ensine-me uma invocação com a qual eu posso pedir a Allah nas minhas orações”. O Profeta disse: “Diga: Ó Allah eu tenho injustiçado a minha alma e ninguém perdoa os pecados, excepto Tu. Por favor conceda-me o Teu perdão. Sem dúvidas Tu és o Indulgente, o Misericordiosíssimo”. Bhukari. “Deposito a minha sorte em Deus. Deus sempre protege os Seus servos”. Cur’ane 40.44. Assim que o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) terminava as orações, ele pedia perdão por três vezes”. Bhukari. Após finalizar as orações obrigatórias, peça perdão recitando 1 vez “Allhahu Akbar” e 3 vezes “Asstafirullah”. “Pela gloriosa luz da manhã e pela noite quando serena, O teu Senhor não te abandonou, nem te odiou” Cur’ane 93:1,2,3.
O Profeta, apesar do seu estatuto e de se encontrar perdoado, pedia perdão a Deus 70 vezes por dia. Outras narrativas referem 100 vezes. Mesmo nas vésperas da sua morte, multiplicou o pedido de perdão. Bukhari e Muslim. O homem está a sempre a tempo de se reconciliar com Allah, pedindo perdão pelos seus pecados. “E quando te esqueceres, lembra-te do Teu Senhor…”. Cur’ane 8:24. Mesmo que assim o faça, antes do último suspiro, Deus, terá isso em conta. Disse o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam): “Os inteligentes e os nobres são os que mais recordam a morte e estão constantemente a preparar-se para o Seu encontro”. Ibn Majá.
Abu Said al-Khudri (Radiyalahu an-hu), referiu que o Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Entre os homens de Bani Israil (há muitos e muitos anos), havia um homem que havia assassinado noventa e nove pessoas. Fez perguntas a pessoas eruditas ou conhecedoras que aprenderam da vida, se podiam mostrar-lhe o caminho da salvação. (vivia ele numa localidade onde o crime e outros pecados eram comuns. Todo o ser humano, por mais pecador que seja, sente algum remorso no seu íntimo). Foi ter com um monge e perguntou-lhe se o seu arrependimento poderia ser aceite por Allah. O Monge (porque não tinha conhecimentos suficientes de ilm religioso para dialogar com as pessoas e porque só se dedicava à adoração), disse que Deus não o perdoaria. Após esta resposta negativa, matou o monge (para ele, matar 99 ou 100 pessoas seria o mesmo). No entanto, continuou a procurar uma resposta ao seu dilema, perguntando às pessoas da terra, até que o encaminharam para um estudioso. Perguntou-lhe se depois de ter morto cem pessoas, se haveria alguma hipótese do seu arrependimento ser aceite e assim ser perdoado? O sábio respondeu que sim, mas que seria bom para ele deixar a sua localidade, que era uma terra má e para se dirigir para uma outra onde as pessoas são mais piedosas, dedicadas à oração e à adoração a Deus. Poderia assim, dedicar-se à adoração na companhia deles. Ele aceitou o conselho e deixou a sua terra natal. Mas depois de percorrer cerca de metade da distância que separa as duas cidades, acabou por morrer. Houve uma disputa entre o anjo da misericórdia (do perdão) e o anjo da punição: Quem o deveria levar? O anjo do perdão argumentou que o homem se arrependeu a Allah, mas o anjo da punição disse que as suas acções foram sempre más. Allah, enviou um anjo na forma de um ser humano, a fim de servir de árbitro e recomendou aos dois anjos para medirem a distância entre as duas localidades e o local onde ele caiu morto. Após a medição, chegaram à conclusão de que a distância para a terra da virtude, para onde ele pretendia ir, era menor. Assim, o anjo do perdão o levou”. “Qatada (Radialahu an-hu), completou este hadice, referindo que o homem antes de morrer, gatinhou, arrastou-se e conseguiu morrer mais perto da terra do perdão. Também é referido que Allah sabia que o homem morreu antes de atingir a outra metade; mas Ele, com a Sua infinita Misericórdia, encurtou a distância para a terra do perdão”. Muslim. Também em Bukhari.
“E quem cometer uma má acção ou se condenar e então (se arrepender) e implorar perdão a Deus, sem dúvidas que O encontrará Indulgente, Misericordiosíssimo”. Cur’ane 4.110
“Wa ma alaina il lal balá gul mubin” “E não nos cabe mais do que transmitir claramente a mensagem”. Surat Yácin 3:17.
“Wa Áhiro da wuahum anil hamdulillahi Rabil ãlamine”. E a conclusão das suas preces será: Louvado seja Deus, Senhor do Universo!”. 10.10.
Abdul Rehman Mangá