O JEJUM DOS NOSSOS ANTEPASSADOS
Depois da oração, a segunda obrigação dos muçulmanos é o de observarem o jejum, durante o mês de Ramadan. As diversas referências encontradas nos Livros, levam-nos a concluir, que a instituição do jejum não é uma novidade e que era uma prática regular dos nossos antepassados, muito antes da era Islâmica. Contudo, os métodos utilizados, eram diferentes daqueles que nos foram instituídos. O nosso Criador, no versículo 2:183 do Cur’ane, refere. “… É-vos prescrito o jejum, como foi prescrito aos vossos antepassados”.
Os Árabes da época pré Islâmica observavam o jejum no dia 10 de Muharram, porque foi nesse dia que Deus salvou Mussa (Aleihi Salam), Moisés, que a Paz de Deus esteja com ele, e o seu povo, da perseguição do faraó. Na altura, Deus abriu uma passagem no mar, que lhes permitiu atravessar em segurança. Para além dos Árabes, outros antepassados também observavam o jejum, como forma de penitência, preparação de ritos e cerimónias, conforme podemos confirmar através dos Livros Antigos.
No êxodo 34:28, encontramos a indicação de que Mussa (Aleihi Salam), Moisés, que a Paz de Deus esteja com ele, permaneceu junto do Senhor durante 40 dias, sem comer e sem beber e escreveu nas tábuas as palavras do pacto, os Dez Mandamentos. Em Mateus 17, refere que Um homem aproximou-se de Issa (Aleihi Salam), Jesus qua a Paz de Deus esteja com ele e pediu compaixão pelo filho que sofria muito de epilepsia. Antes o apresentou aos seus discípulos que nada puderam fazer. Jesus repreendeu o demónio, o qual saiu do menino e ficou curado. Os discípulos perguntaram a Jesus, os motivos porque eles não o conseguiram expulsar. Respondeu: “Por causa da vossa pouca fé, pois se tiverem fé do tamanho duma mostarda direis a este monte, passa para ali e ele há de passar e nada vos será impossível. Mas isto só se consegue à força da oração e do jejum”. Outra referencia acerca de Issa (Aleihi Salam), Jesus que a Paz de Deus esteja com ele: No deserto foi tentado pelo diabo, jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e por fim teve fome. Depois de rejeitar as tentações terrenas do diabo, disse: “está escrito, nem só do pão viverá o homem, mas (também) de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Depois vieram os anjos e o serviram.
No tempo dos nossos antepassados, a pobreza era imensa e a falta de alimentos, provocava uma fome extrema, originando doenças e danos físicos. Mas mesmo assim, tinham um elevado sentido de fé e de esperança em Deus. O mesmo se passou no tempo do Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam), em que havia momentos que as pessoas não tinham nada para comer, incluindo na casa do Profeta, onde muitas vezes o “fogão” não era aceso, durante dias. Amarravam pedras junto ao estômago, para aliviarem as dores provocadas pela fome. No entanto, depois de instituído o jejum do mês de Ramadan, todos observavam o jejum com muito entusiasmo, às vezes desmedido em relação à situação física de cada um, o que levava o Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) a intervir, para acalmar o entusiasmo e os ânimos.
O Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) observava jejuns voluntários (nafl) em dias seguidos e as pessoas pensavam que ele assim continuaria jejuando para sempre. Depois deixava de jejuar, durante dias e então pensaram que ele não iria jejuar mais. Durante o mês de Shabaan, jejuava quase todo o mês e pensavam que ele iria jejuar todo o mês. Somente no mês de Ramadan é que jejuava o mês inteiro. Em qualquer mês do ano, tinha por hábito jejuar às segundas e às quintas-feiras. Também recomendava as pessoas jejuarem 3 dias por mês.
Referiu que quem jejuar 6 dias de Shawal, é como tivesse jejuado todo o ano. Jejuava e recomendou para assim fazerem nos dias de grande significado religioso, como por exemplo no dia de Arafa e no décimo dia de Muharram (Ashura). O Profeta (Salalahu Aleihi Wasslam) proibiu os seus Sahabas (Radiyalahu an-huma) de jejuarem continuadamente todo o ano. Recomendou que quem pretendesse fazer jejuns facultativos, o poderia fazer, mas descansando depois vários dias.
Para os que insistiam competir com ele, nos jejuns seguidos, recomendava prudência e referia o Jejum do Profeta Daúde (Aleihi Salam), David, que a Paz de Deus esteja com ele, que jejuava um dia e descansava outro, sendo este o melhor jejum. Durante o Mês de Ramadan, o Profeta Muhammad (Salalahu Aleihi Wassalam) tinha por hábito fazer jejuns ininterruptos (saum wisal) e proibiu os sahabas de o fazerem. Quando foi interrogado porque podia ele fazer e eles não, respondeu: “Eu não sou como vocês, o meu Senhor me provisiona de beber durante a noite em que eu fico nesse estado”.
Infelizmente nos nossos tempos, o flagelo da fome é uma constante em muitos países, mas nada se compara com o sofrimento dos nossos antepassados. Então, sendo o mesmo Cur’ane, o mesmo Profeta, a mesma orientação que encontramos nos hadices, então porque motivos a nossa fé e a esperança em Deus se encontram no nível abaixo do desejado? O nosso bem-estar e as nossas condições materiais, serão o entrave? Nada disto justifica a situação, porque também na altura, no meio de tanta pobreza, existiam pessoas ricas, mas que o comércio não lhes distraía no cumprimento das obrigações religiosas. As suas condições materiais lhes permitiam fazer tudo o que os pobres cumpriam, mais ainda, distribuindo a caridade e libertando escravos. “Homens, a quem nem o negócio, nem o comércio distrai da recordação de Deus, nem da observância da oração, nem do pagamento do zakat…… E Deus dá provisão a quem quer, sem medida”. Cur’ane 24:37 e 38.
Rabaná af rig ãleiná sab ran wa tawafaná muslimun: “Senhor Nosso, concede-nos a paciência e faze com que morramos submissos a Ti!”. Cur’ane 7:126
Rabaná ghfirli waliwa lidaiá wa lilmu-minina yau ma yakumul hisab”. “Ó Senhor nosso, no Dia da Prestação de Contas, perdoa-me a mim, aos meus pais e aos crentes”. Cur’ane 14:4.
Abdul Rehman Mangá